no silêncio das palavras, parou o tempo.
qualquer ruído que nos atravesse agora
será como se as palavras nos fossem arrancadas…
e muito desumanamente os seus lugares expropriados
nos fossem tomados com toda a violência…
a dor que ecoa desnuda e sem compaixão
soluça penetrante no vale onde sufocam
as lágrimas de tantos sonhos desfeitos…
do sangue derramado, o espírito de um rio
que não coagula…
nas margens rasgadas… jazem os poemas
que não cicatrizam na memória…
e a esperança de que o tempo retome
com exactidão… se ocupe de justificar
o irremediável curso dessas águas
tragicamente vertidas…
vestem-se de ruína estes corpos
mártires onde se deteve com fúria
a bondade dos deuses…
a fé deste povo faminto
caminha ao lado da morte
que também submisso perdoa…