a situação levou-me a sair
de latitudes mais baixas e
a procurar abrigo em latitudes
menos poluídas de gente, que não é...
as rochas desagregadas,
movimentam-se lentamente
ao som dos guizos das cabras...
Pastor !...
pastam meus olhos
e meus ouvidos, buscando
a melhor forma de escrever pedra,
de a perceber dura,
de a sentir vida!...
a cidade é bem mais calma
vista a esta distância.
a sua dureza e a sua esterilidade
agigantam-se, sombrias.
olhos tristes os que só longe
vos conseguem calma.
fachada hipócrita essa,
visão enganosa que vos tolhe a alma.
imagem: dariusz klimczak
somos
da ilusão...
os iludidos
por entre constelações
perdidos...
somos no imaginário
dos deuses
os esquecidos
agora eu sei...
que o azul é apenas
um enigma por desvendar
no lugar onde nós sonhamos
tão cinzentos
poeta e artesão
lavrador de opinião
escultor de ideias contrárias
algumas de igual corrente…
arquitecto de cabanas
cadeiras mesas e camas…
e outros mais acessórios
de tamanha serventia…
gaiolas? quando as fazia
e pombais prá passarada
sem saber que a poesia
não se faz numa jornada…
poema em construção
de madeira ou de betão…
e se tiver um ferro à mão
também se constrói mobília
ou se faz dele instrumento
para acompanhar a canção…
de amor que sonha seu rio
a vida por onde corre…
onde nasce e se consome
aquilo porque se morre…
a falta de lucidez que nos mantém
entre o consciente e o inconsciente;
entre o conhecido e o desconhecido…
um estado… que possibilita
a improbabilidade do verbo
no versejar exacto desse tempo…
que nos traz poesia…
entre mim e ti...
o mistério com que fechas todas as portas...
apesar dessa maré cheia... de amor...
sinto-te naufragar em sentimentos muito mais
sombrios...