Maré de Espanto…
meu deslumbramento!
o primeiro passo
para o encantamento das
sombras que partilhamos…
enquanto delírios de rosas
nos perseguem os sonhos…
lugar onde tudo o que é febril desperta
no entardecer exaltado dos corpos…
cântico que arrepia a luz que nos envolve…
enquanto o segundo passo se inicia…
e as mãos… colhem com firmeza
tão bela poesia!!!
essa tão inspirada inquietação… …incendeia tudo que não somos ainda… possibilita o atravessamento, sem medo, das “cidades com pássaros nos ombros”… liberta as emoções vibrantes que esvoaçam no peito… provoca a erupção da poesia incandescente que trazemos dentro: lava que solidifica nas encostas íngremes do poema… como palavras que afloram à crosta vulcânica do verbo… seríamos muito mais do que isso… se pudéssemos vomitar estrelas… ou apenas num sopro, dar vida às nuvens… moldar montanhas como se os nossos dedos tivessem a força das marés que nos trouxeram até aqui… e seríamos muito mais do que isso… se não morressem também os nossos sonhos…
no silêncio das palavras, parou o tempo.
qualquer ruído que nos atravesse agora
será como se as palavras nos fossem arrancadas…
e muito desumanamente os seus lugares expropriados
nos fossem tomados com toda a violência…
a dor que ecoa desnuda e sem compaixão
soluça penetrante no vale onde sufocam
as lágrimas de tantos sonhos desfeitos…
do sangue derramado, o espírito de um rio
que não coagula…
nas margens rasgadas… jazem os poemas
que não cicatrizam na memória…
e a esperança de que o tempo retome
com exactidão… se ocupe de justificar
o irremediável curso dessas águas
tragicamente vertidas…
vestem-se de ruína estes corpos
mártires onde se deteve com fúria
a bondade dos deuses…
a fé deste povo faminto
caminha ao lado da morte
que também submisso perdoa…