onde esgotados
os sentidos perturbados da razão,
morre a poesia
nos desfiladeiros rochosos da alma
na sistemática exaustão dos dias.
ascende íngreme do abismo,
do precipício inevitável das palavras
na contundente demência das ideias
bandeira que ao relento
se exprime em sua honra
a meia haste quebrada
o granito sequioso das fachadas
ostenta a sua longevidade divina
no esquife, enterrada a matéria
putrefacta dos compartimentos
na face da marmórea claridade
a gélida insignificância do sangue coagulado
aqui!..
onde degradados
pelo místico paraíso da morte,
na reclusão intuitiva dos dias
nasce congénita a clausura.
quando a morte vier, libertadora
e me arrastar insensível para o nada
somente serei possível
na sombra colorida das flores
e no canto crepuscular das aves
o odor angélico
da alma libertada
sentir-se-á nas fragrâncias primaveris
e nos pólens férteis e fecundos.
enquanto isto me for possível
não morrerei no inferno desta sepultura!
Entre a confusão do medo e a fadiga da pobreza
estará sempre uma dignidade sem preço que
também não podemos omitir... uma subtileza,
nesta vida poluída, que jamais se encontrará à venda...
bendita a que intensa(mente)
se oferece ao amor que se crê impossível...
em nome do que possível se sente tão verdadeiro
como o que se toca...
palavra em verso... mãos e boca...
que diz e desdiz esse beijo...
lugar onde a pele se fez
campo de ternuras involuntárias...
incontidas e desmedidas...
alma tua... amor meu...
quem saberá o que de teu
me foi destinado?...
poeta fui... quando sonhei haver dias que não terminam sem ter sorrido a felicidade... poeta me trago ausente desse sentir agudo que reacende a vida... poeta fui... como que perdida a chama na combustão do amor que se queria eterno... poeta? talvez enfermo... o mal que me persiste... poeta eu… que em mim... já não existe!
poder ser trigo!...
grão que amanhece
húmido no teu poema
terra que desperta
a madrugada onde germinam
os corpos que amaremos
no interior da fertilidade
dessa seara que alimenta
o infinito...