não são azuis
os corações que sonho
o ódio podre neles contido
ferve a cáustica genética
vazando a hereditariedade de gerações
mantidas em pesadelo constante
neste pesadelo meu...
não são corações
os azuis que tenho
com urgência
de acordar...
imagem: © Simone Held
existe a falta
existe a falha
esta ausência humana
que me calha
que cai em mim
saudade grande
a queda alta,
funda
que me invade
e acerta
e faz de mim
um ser exangue
que do sonho não desperta...
por ser só vício...
sinto agora que escrevo
p’ra fugir do precipício.
imagem: Philip Mckay
Não é sem razão
que o brilho dessa água
que tu és
se sobrepõe à flor
que não fui.
Não é por paixão
que me prendo
na corrente do teu som...
Não é da luz
nem é do tom...
Nem é dor
nem é amor
este olhar em que te fixo
em que me movo...
É a tua existência
é a tua presença
a tocar-me de novo.
imagem: © Zev(Fiddle Oak)
és sem dúvida um ser especial.
gostaria que continuasses a partilhar esses teus íntimos reflexos...
ou reflexos que dizes... reflexões de outros
a que apenas dás corpo e luz…
vidas aprisionadas no intelecto da invisibilidade
matéria que transborda a energia de quem não se conformou
com uma antecipada extinção…
parcial!? ou não…
resistentes que perdurarão para além do tempo
para além do espaço que eles próprios eternizam
o nada : essa invisibilidade aos olhos de quem
julga ter visto tudo...
superficialidade de um núcleo distante
essa outra galáxia perto da razão de tudo
que nos é mítico ou desconhecido
essa aspirada transcendência para a perfeição
que nos é também distante…
Mário João
abstraídos do ruído
a limpidez da música chegará
na ebulição dos pássaros
que trazemos dentro
...
imagem: Tommy Ingberg
...
ainda que por vezes te consiga ausentar...
e pareça adensar o vazio da solidão em que me encontro...
és tu que preenches todo o meu devasso esquecimento
imagem: pescada na rede
por: um pescador de sonhos